quarta-feira, 9 de junho de 2010

Os patos preferem a escola

Fernanda Torrinha
Dulce Bento


No tempo em que os animais falavam, os bichos constataram que o meio em que viviam começava a tornar-se cada vez mais complexo e havia que impor novas hierarquias, estabelecer novos parâmetros de comportamento, uma vez que já não chegavam os seus instintos inatos para enfrentar as modificações do meio.
Esta necessidade deu lugar à ideia de ESCOLA: uma estrutura social, que os habilitaria, A TODOS, para enfrentar as crescentes modificações a que assistiam.
Foram escolhidos os melhores animais para a docência, isto é, os reconhecidos como mais experientes, alta profissionalização nos seus domínios específicos, grandes títulos em competições. O reconhecimento destas qualificações envaideceu-os, naturalmente, e a maioria esqueceu, desde logo, a razão porque estava ali. Com muitas reuniões gerais de professores, muitas reuniões de grupo, reuniões de concelho pedagógico, de departamentos, de secções, reuniões de concelho directivo, etc., escolheram o seguinte currículo: nadar, correr, voar, galgar montes e saltar obstáculos.
Os primeiros alunos foram o cisne, o pato, o coelho e o gato.
Começadas as aulas, cada professor, altamente preocupado com a sua disciplina, preparava primorosamente a matéria, dava-a sem perder tempo, procurando cumprir o programa e a planificação do mesmo. Faziam, assim, jus aos seus títulos e competências, mas os alunos iam-se desencantando com a tão sonhada escola. Vejam o caso particular de cada aluno:

-O cisne nas aulas de correr, voar e galgar montes era um péssimo aluno. E mesmo quando se esforçava, ao ponto de ficar com as patas ensanguentadas das corridas e calos nas asas, adquiridos na ânsia de voar, tinha notas más. O pior era que, com o esforço e o desgaste psicológico dispendido nessas disciplinas, estava a enfraquecer na natação, em que era exímio.

-O coelho, por sua vez, padecia nas matérias de nadar e voar. Como poderia voar, se não tinha asas? Em se tratando de nadar, a coisa também não era fácil, não tinha nascido para aquilo. Em contrapartida, ninguém melhor do que ele, corria e galgava montes.

-O pato, finalmente voava um pouquinho, corria mais ou menos, nadava bem, mas muito pior do que o cisne, e desastradamente, embora com algum desembaraço, até conseguir subir montes e saltar obstáculos. Não tinha reprovações em nenhuma disciplina, como os seus restantes colegas, o que o fazia sumamente brilhante nas pautas finais. Os professores consideraram-no mais equilibrado, deram-lhe a possibilidade de prosseguir estudos e, com tantos «atributos», até fomentaram nele a esperança de, um dia, poder vir a ser professor.

Os restantes alunos estavam inconformados, nada tinham contra o pato, gostavam dele, compreendiam o seu grau mínimo de suficiência em todas as disciplinas, mas, então, perguntavam-se: a espantosa capacidade do coelho em saltar obstáculos, correr e galgar montes não poderia ser aproveitada para enfrentar as tais novas situações sociais, que os levaram a ter a ideia de ESCOLA? E o gato? De nada lhe servia também correr e saltar melhor que o pato? E que utilidade teria, para o cisne, nadar como nenhum outro? – Cada um tinha, de facto, a sua queixa justificada, Escola, pensavam eles, era o local onde aperfeiçoariam as capacidades que tinham, de modo a pô-las ao serviço da sociedade. Se as coisas já estavam difíceis, que fazer agora com a tremenda frustração de que não serviam para nada?

Foram falar com os professores. As limitações de cada um eram um facto, eles sabiam que jamais seriam polivalentes, de modo a terem grandes escolhas. Contudo, se reprovassem, no ano seguinte estariam exactamente na mesma situação.

Os professores lamentaram muito. Tinham de se esforçar. Havia um programa, superiormente estabelecido, e a questão era só esta: ninguém tinha média igual à do pato e, por isso, na sua mediocridade, ele era, estatisticamente, superior a todos.

Os outros alunos abandonaram a escola. Desde então, por razões óbvias, a escola atrai mais os patos e, na sociedade, são eles que dominam.

Este texo faz-nos pensar na nossa realidade actual e na maneira como a nossa Escola está contruída. Será que os alunos de hoje querem ser todos "patos"?
Cada aluno, bem como todas as pessoas em geral têem uma vocação, algo para o qual estão aptas naturalmente, outras vão descobrindo essa vocação com o passar do tempo. É aqui que entra a escola. Esta deve orientar os alunos, para que sejam pessoas mais cultas, para que se integrem na sociedade e para que escolham o seu próprio caminho.
Na escola vão aprender e ter opurtunidade de se interessarem mais por uma àrea.
A educação deve ser para todos, deve ser diferenciada, pois ninguém é igual ao outro. Somos todos diferentes, com características diferentes, logo precisamos de uma educação que vá de encontro às nossas necessidades.
Não queiramos ser todos "patos", os quais são mais ou menos bons em tudo, mas no fim de contas bons em nada.
Sejam bons naquilo que mais gostarem de fazer, profissionalizem-se para que sejam os melhores nessa àrea!